A arte do vazio

Fiz kendo por alguns anos e, apesar de não ter levado adiante minha vida neste esporte por motivos físicos, levo muito do que aprendi lá comigo. Ainda quando kendoka li Go Rin No Sho (O Livro dos Cinco Anéis) escrito por ninguém menos que Miyamoto Musashi que era dividido em 5 capítulos: Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio, onde ele fala sobre diversos conceitos aplicáveis tanto dentro quanto fora dos campos de batalha. O capítulo mais importante, assumindo que se leu e assimilou todos os outros capítulos é o Vazio, onde tudo o que se aprende é “esquecido”, não ao pé da letra como à primeira vista parece ser, mas sim libertando o leitor de conceitos fixos, dando asas à imaginação e, principalmente, ao coração, à intuição, à necessidade para nos guiar na hora das decisões. E é justamente isto que quero abordar hoje, a maneira como devemos proceder quando não cabe mais a nós o rumo de uma partida ou quando precisamos impor ainda mais pressão sobre o adversário utilizando apenas de blefes.

Na derrota

Imagine estas situações: 1- você já viu que estava com o jogo perdido, desistiu com a mão repleta de cartas, olhou a primeira carta do topo do deck e viu que se tivesse mais um turno poderia virar a maré a seu favor; 2- você começa com cartas de reação como por exemplo Mystical Space Typhoon, mas passa a vez sem setá-la com medo de removals do adversário, no turno do adversário toma um OTK; 3- seu adversário tem um Monstro com 2700 de ATK no campo e você tem uma Mirror Force setada com 3000 pontos de vida, ele ataca e você ativa a Mirror, no próximo turno ele baixa um Monstro com mais de 300 de ATK e vence o jogo.

Todas estas situações acontecem diversas vezes durante um campeonato e todas elas tem algo em comum: apesar de não garantirem uma posição boa para você no jogo, caso você tivesse feito um blefe ou uma finta, elas forneceriam uma possibilidade para você se recuperar mais para frente, nada mais justo quando já se está prestes a jogar a toalha, não? Você poderia ter agido de forma diferente em todos os exemplos para, no mínimo, forçar uma ação diferente do adversário, afinal para quê facilitar se você pode induzí-lo ao erro? Hoje em dia é muito arriscado esperar por um milagre, as vezes o milagre pode ter acontecido na mão do seu oponente e você terá que correr atrás do prejuízo em outra partida.

Sempre que penso em uma jogada precipitada eu mentalizo o “E se…”, “e se meu adversário tiver com um Dark Hole?”, “E se ele estiver com uma Tsukuyomi e virar para baixo meu Monstro que está controlando o passo do jogo?”. “E se” é uma pergunta simples, mas sabendo qual deck o adversário está usando e as cartas que já estão em domínio público, estas informações podem levar a uma vitória certa, então e se você tivesse agido de outra maneira naqueles 3 casos que citei alí em cima?

Eu, particularmente, agiria das seguintes formas: 1- setaria o máximo de cartas que pudesse, se eu tivesse uma carta de Monstro forçaria o oponente a Invocar mais Monstros para vencer, se estivesse com Magias e/ou Armadilhas, setaria umas 2 para não demonstrar desespero, se tivesse um Monstro e uma ou mais Magias/Armadilhas, provavelmente teria chance de me recuperar no próximo turno, pois dificilmente um adversário arriscaria perder o campo para uma Torrential Tribute ou Mirror Force quando já está com o jogo quase ganho; 2- setaria sem nem ao menos pensar, apesar de hoje Mystical Space Typhoon estar em baixa, elas são muito importantes em partidas contra Fire Fists, Dark Worlds, GKs, Dragunities, entre muitos outros, e se o adversário tiver a oportunidade de bater direto ele o fará sem medo, foi-se o tempo em que Gorz, Tragoedia e afins eram grandes surpresas, hoje tem um tal de Big Eye que pode fazer sua própria defesa virar uma arma contra você mesmo e acelerar o próprio fracasso; 3- eu sempre penso “Para que gastar um recurso se ele não é necessário no momento?”, é o que aconteceu, você tem 3000 Pontos de Vidas e seu oponente tem um Monstro com 2700 de ATK, você não irá perder neste turno, então para quê dar a Mirror Force? Nunca conte com a carta do topo para virar um jogo, se sua única jogada boa era uma Mirror setada, não gaste a menos que seja uma questão de vida ou morte na partida, se a pessoa tivesse guardado a Armadilha para depois teria dois turnos ao invés de 1 para tentar mudar sua situação.

Na vitória

Você também pode blefar quando está ganhando uma partida e isto pode realmente complicar a vida do adversário caso ele caia na sua lábia. Caso você saiba que seu adversário não usa proteção com Magias/Armadilhas, sete suas Typhoons ou sua Heavy Storm para forçá-lo a gastar seus recursos nelas. Se você tem alguma hand trap, por exemplo Effect Veiler, e outra carta que tenha um efeito similar e compatível, leia-se Breakthrough Skill, sempre use a que está setada (ou já esteja no campo) pois há uma grande chance de seu oponente estar testando suas defesas antes de fazer um ataque de verdade, logo, você terá uma Effect Veiler pronta para negar uma segunda tentativa do oponente reverter sua situação, que dificilmente ele irá obter sucesso.

Existem diversas maneiras de blefar e jogar com absolutamente nada nas mãos e para isto não é necessário seguir uma dica ou outra em específico, basta você seguir sua criatividade e analisar em que passo o jogo está, apenas com isso você poderá se manter em uma posição favorável ou evitar piorar, caso já esteja em uma posição desfavorável. Cabe a você deixar o vazio te guiar e você tomar a decisão certa, quando não se há mais nada a fazer, faça o que puder, apenas não facilite.